quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Último dia para ler


Mais um conto, curtinho o suficiente para ser colocado aqui e te dar a possibilidade de uma leitura rápida. Espero que agrade. Se tiver um tempinho pode comentar.

ÚLTIMO DIA

Novidade. Chegou em casa fora do horário. Trazia flores e um presente de aniversário.
Dali em diante, não houve mais sossego.
Ele reclamava; ela explicava.
Era seu dia. Saíra com amigos.
Traição.
Ciumento.
Vagabunda.
O amanhecer trouxe outro dia. Outra vida.
As lágrimas secaram. As roupas arrumadas em outro armário.
Ela comemorava de novo. Agora, sim, de verdade.


domingo, 26 de outubro de 2008

Dalva



O conto "Dalva" retrata a procura realizada por um detetive particular a uma mulher que desapareceu da vida de um homem. Mudando de nome e profissão como quem muda de roupa, Dalva atualmente vive como cantora em um cabaré. Quantas surpresas e obstáculos o nosso detetive vai ter que viver e superar para concluir seu trabalho? Será que a busca está terminada com a indicação recebida? O começo do conto está aí:
DALVA
As luzes piscavam coloridas. Rodavam pelas paredes. Desciam do teto ao chão e depois subiam novamente. Enquanto o baixo marcava o ritmo, o trompete harmonizava com o saxofone. O teclado levava a melodia mansa que embalava os poucos casais na pista de dança.
Nas mesas, outros tantos casais se preparavam para uma noite de amor e negócios. Os garçons passavam ágeis, cegos e surdos aos não poucos exageros cometidos por alguns clientes. Entretanto, escutavam com presteza o pedido de mais uma cerveja, um pratinho de batata frita ou um filezinho. Não era raro encontrar uma calcinha perdida sob as pernas abertas das mesas.
O oferecimento dos corpos era o negócio daquele lugar. Lá e em tantos outros por ali. Música, bebida, homens sozinhos, mulheres que procuravam homens sozinhos para uma noitada.
E, naquela noite, Sérgio era um desses homens sozinhos. Entrara para desopilar o fígado como ele mesmo dissera. Voava nas notas, às vezes desafinadas, do conjunto. A voz firme e rouca do crooner evocava em Sérgio uma sensação gostosa de conforto e relaxamento. Era disso que ele precisava e procurava naquele lugar.

Leia no livro resto do conto, que é grande demais para ser postado aqui no blog, o aparecimento de Jezebel, a surpresa no encontro com Lúcia, as reminiscências da infância, e o desfecho como só a vida sabe dar.


quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O pequeno conto da Rua Pequena


Mais um conto que faz parte do "Senhores Cores". Espero que gostem.
O pequeno conto da Rua Pequena

A Rua Pequena é uma rua pequena de uma cidade grande.
Quatro casas, três lojas, um terreno sem cerca e uma pequena igreja. Pequena mesmo. A rua. Se fosse maior, talvez tivessem que alterar seu nome.
A rua era calçada e tinha duas calçadas. E uma das lojas, coincidência, era uma loja de calçados.
Quem entrava na Rua Pequena logo saía, pois não tinha como se demorar lá. Seu início era bem pertinho de seu fim.
A pequena rua não tinha árvores. Que pena. Era muito quente por causa disso. Também não tinha passarinhos. Mas quem morava na Rua Pequena gostava muito de morar lá.
Quase todos diziam: “Eu moro aqui desde pequeno”.
E a Rua Pequena também estava ali desde que a cidade era pequena.
Hoje a cidade é grande. Cresceu. A rua, entretanto, continuou pequena.
Em toda a sua vida, a Rua Pequena teve pequenas mudanças.
Já teve, há tempos, uma árvore. Grande.
Um dia, caiu um raio na árvore e a derrubou. Ela caiu em cima da casa que ficava em frente, que caiu no chão. Foi até notícia num grande jornal. Pequena, mas foi.
Hoje é onde fica o terreno sem cerca da rua.
Sem cerca, sem casa, sem árvore.
É assim que é a Rua Pequena.

sábado, 18 de outubro de 2008

Dando nomes aos bois


Criar requer um segundo ato que é o de denominar a criação. Muita gente me pergunta o porquê desse estranho nome "Senhores Cores" dado ao livro. Claro que é o nome de um dos contos que compõem a obra, mas e daí?
A história desse conto diz respeito à polêmica levantada por alguns participantes desse enorme grupo chamado "Cores". Conhecemos bem eles: o azul, o amarelo, o vermelho, o verde, o marrom, o preto, o branco, o laranja... Tem algum integrante desse grupo que seja conhecido como "A" cor tal? Não. Todos eles são legitimamente masculinos. Daí a revolta deles em serem conhecidos como AS cores. A reivindicação é que eles sejam OS cores, afinal eles são os Senhores Cores. Reúnem-se num congresso para discutir os prós e contras dessa luta. Será que vão conseguir reverter esse "erro"? Participe desse movimento, e dê sua opinião a favor ou contra a mudança pretendida.

Orelhas




sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Na internet



Conto ponto com encontro


O concerto já estava pra lá da metade quando o telefone tocou. Pensou em não atender, como sempre fazia. Olhou para o relógio da parede, na sala. Nove e meia da manhã.
- Ora bolas. Quem ligaria numa sexta-feira, às nove e meia da manhã, para minha casa?
Resolveu atender. Interrompeu a audição. Tchaikovsky iria esperar desta vez. Só desta vez. De novo. Geralmente acontecia isso de ser interrompido.
- Alô?
- Bom dia, queria falar com o Júlio, por favor.
- Vai ficar querendo, querida. O Júlio não mora aqui.
- Ué, mudou-se?
- Não, você simplesmente ligou o meu número e não o número do Júlio. Simples, não é?
- Oh, desculpe, então.
- Desculpas? Você tem idéia do atrapalho que você causou ligando para cá agora?
- Nem imagino.
- Pois saiba que eu estava...
- Olhe, senhor, sinto muito em ter interrompido sua ocupação.
- Mas, você nem sabe o que era.
- Nem me interessa, mas se era tão importante para o senhor não deveria ter deixado o telefone no gancho. Se ele estivesse desligado, não teria interrompido.
- Desculpe-me. Fui grosseiro com você. Tem toda razão. O erro foi meu...
- Parece que o senhor está mais calmo agora.
- Por favor, não me chame de senhor. Não sou tão velho assim.
- E como posso chamá-lo?
A conversa demorou ainda uns vinte minutos. Para uma ligação errada, rendeu.
Tchaikovsky cansou de esperar e foi para a discoteca. De novo. Não voltou a se apresentar tão cedo. Mônica ocupava os momentos de folga de César.
No início era por telefone. Em pouco tempo já estavam marcando encontros nas salas de conversas da Internet.
No trabalho ou em casa, César acessava sempre o seu e-mail para ler, ou para enviar, uma mensagem para mônica@.
Como característica da conversa, tinham em comum não perguntar nem expor particularidades. Sabe Deus o que tanto conversavam se não sabiam quem eram. Além de nome e idade (esses dados seriam verdadeiros?) ninguém falava sobre trabalho, dinheiro, namoro ou filhos.
Trocavam fantasias, sonhos e desejos de consumo. Assistiam a esse ou àquele filme, show, peça de teatro. Depois comentavam. Nunca iam juntos. Detalhe. Não se conheciam.
- Meu sonho era ser trapezista e morar num circo. Não ria.
- Como é que eu vou rir? O meu era ser pastora de um pastoril profano. Eu adorava assistir aquelas apresentações quando era menina.
- Já imaginou se o mundo fosse como as crianças o imaginam?
- Seria muito mais bonito e gostoso de se viver.
- Viveríamos viajando de trem, navio e avião pelos quatro cantos do mundo. Lugares exóticos e distantes.
- Lugares eróticos e excitantes.
- Esses também.
- Lugares imortalizados pelo cinema.
- Mas temos tantos lugares exóticos pertinho de nós.
- Nem se comparam à imensidão da cordilheira do Himalaia.
- É mística.
- E saudável. Que o digam os gurus de lá.
- É, mas lá faz tanto frio que as pessoas não envelhecem. Ficam conservadas...
- Boa teoria... e nós aqui nesse calor, deteriorando.
- Se lembra do filme “Horizonte Perdido?”.
- Se me lembro? Quase larguei tudo para ir atrás daquele lugar.
- E o que te fez ficar?
- É que depois assisti “Sete Dias no Tibet” e percebi que, apesar das belezas, a política, a economia e a religião fazem todos os lugares serem iguais.
- É verdade. E Hollywood faz todos serem diferentes.
Diziam que queriam viajar para conhecer a Europa, o interior do Mato Grosso, a Ásia, o Estreito de Gibraltar. Qualquer lugar era merecedor de uma viagem. Carne vermelha faz mal à saúde. Chá de boldo faz bem, mas é ruim...
- Mas são milênios de experiência que os chineses têm. Carne vermelha dificulta a digestão.
- E o chá de boldo? É muito ruim. Até o cheiro é enjoado. Quem tem vontade de tomar isso?
- De boldo eu também não aprecio, mas não há nada mais gostoso e saudável que um chazinho depois do almoço. De canela.
- Erva cidreira.
- Capim santo.
- Esse é “hors concours”.
- Maçã.
- Um cafezinho...
Numa dessas conversas alimentares, César propôs um encontro. Ao vivo. Em carne e osso, para um almoço no sábado.
- Vegetariano – prontificou-se logo Mônica.
- Que seja – César concordou.
Depois daquele encontro marcado, César parava sempre para pensar. Por que propôs o encontro? Não era o seu jeito de fazer as coisas. Mas aconteceu.
Não fazia idéia de como era Mônica. Ficou apreensivo. E se ela estivesse mentindo no que informava?
- E se ela achar que o mentiroso sou eu? Será que eu inventei alguma coisa para ela. Nem me lembro. Acho que não. Mas eu também nunca imaginei que ia dar numa coisa dessa. Almoçar com ela? Que idéia idiota. Em que enrascada eu me meti. Como é que isso foi acontecer? Nem vegetariano eu sou. E se ela estiver mentindo? Se ela tivesse ao menos aceitado um encontro numa churrascaria. Numa pizzaria, vá lá. Mas não, foi logo exigindo comer capim. Eu não sou burro. Nem vaca. Eu como vaca. Não vou e pronto.
A decisão estava tomada, mas como avisá-la? Não iria deixá-la esperando. Precisava arranjar uma boa desculpa, mas não a verdade. Poderia magoá-la.
- Já sei, vou e espero-a sem me apresentar. Vejo-a e conforme for a figura... Boa idéia. Não. Não tenho coragem de fazer uma palhaçada dessa. Mas, por que ela aceitou o convite? Poderia ter dito “não”. Não vou e pronto. Ela não disse, mas eu digo.
Sábado chegou. Mônica não recebera respostas às mensagens enviadas a César nos últimos dias. Estranhou, mas não deu muita importância ao fato. Deveria estar trabalhando e sem tempo de acessar. Ou o computador podia ter dado uma pane. Tantas coisas.
Passou a manhã cuidando de si mesma, como fazia todos os sábados. Manicure, pedicure, coquetel nos cabelos. Antes de tudo isso, uma caminhada no parque da cidade para espantar o sedentarismo.
Na hora do almoço, dirigiu-se ao restaurante escolhido para o encontro.
Sentou-se, pediu umas torradas de alho. Pão de centeio. Esperava César.
- Boa tarde, Mônica.
- Boa tarde.
- O que vai querer hoje?
- O mesmo de sempre. Sábado é dia de suflê de lentilhas, não é?
- Claro. Nossa especialidade.
- Quero um, então.
- Está esperando alguém?
- Estou sim.
O garçom já se afastava quando Mônica o chamou:
- Dá para aumentar um pouquinho o volume do som?
- Claro que sim. Aguarde um instante.
Tchaikovsky, novamente, emocionava a quem o ouvia.



Nanoliteratura


O livro é uma coletânea de 24 contos, 5 dos quais não têm mais que 13 palavras, ou 60 letras. Estão agrupados em uma só página denominada Nanoliteratura. Essas criações foram um exercício ao qual eu me dediquei na busca de síntese, concisão e objetividade.

Exemplo:


CAFÉ NA CAMA

Bebia café como coador.
Na cama, reclamava da insônia.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Prefácio


Prefácio do livro
O prefácio do livro foi escrito por Fátima Quintas e pode ser acessado no link acima. É só fazer o download.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Capa do livro

Aí está a capa do livro. A programação visual foi de Cíntia Braz. Direto de Paulo Afonso.

domingo, 12 de outubro de 2008

Prefácio


Recebi nesse final de semana o prefácio para o livro. Fiquei lisonjeado com o conteúdo. Agora é juntar esse arquivo recebido com a segunda prova corrigida e levar de volta à Bagaço para preparar o (espero) último texto para, daí, partir para a impressão.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Segunda prova


Peguei hoje o material corrigido da primeira prova. Nova leitura para aferição das correções e descoberta de novos erros. Imaginem que chamaram o livro de "Senhores Cores e outros poemas". Poemas? Donde vieram esses? São apenas contos. Vamos corrigir essa também.

sábado, 4 de outubro de 2008

Ilustrações


As ilustrações do livro ficaram sob a responsabilidade de Igor. O conheci com uns seis anos de idade, época quando desenhou o rosto que ilustra a capa e o blog. Guardei o desenho por achá-lo bonito e expressivo. Não imaginei nunca que um dia iria utilizá-lo na capa de um livro. Associei, num lance, ao conto que dá título ao trabalho publicado e resolvi ilustrar os outros contos.
Convidei, claro, Igor para fazer outros desenhos. Então, ele já tinha 15 anos. Fez com competência profissional, e recebeu por cada desenho entregue. Nem todos foram usados no livro, por causa da paginação.
A programação visual da capa ficou a cargo de outra pessoa. Depois falo sobre isso. A foto acima foi tirada no dia do resultado do vestibular desse ano, quando passamos e fomos tosados...
Hoje ele cursa Engenharia na UFPE, e eu... bom, deixa pra lá. Minha vida estudantil já faz parte do passado, mas foi bom conhecer o pessoal da Agronomia da UFRPE durante o primeiro semestre.